Parece coisa feita. Dezembro acaba sendo sempre igual. O mesmo frio nos olhos refletidos pelo espelho do banheiro esquecido pela vassoura, balde e sabão. Aliás, que saco é lavar banheiro:
- Tenho mais o que fazer. Preciso treinar meu olhar-de-fim-de-ano no espelho. Ensaiar sorriso e um “prospero ano novo”, no mínimo, sociáveis.
Dez minutos na frente do espelho sempre resulta em frustração. Junto às olheiras e remelas, a percepção do tempo na face cansada, e mesmo assim ainda jovem, é nítida. Começa o momento nostalgia. Por trás de sua fiel e quase leal cópia, presa no retângulo pregado na parede, começa o filme dos aproximados trezentos e trinta e cinco dias até então.
As músicas e cheiros vêm à tona com força surpreendente. Lembranças latentes. O perfume dos protagonistas é tão forte quanto a trilha sonora. Tudo sempre muito vasto. A imagem, misturas de cores, velocidade das cenas são muito bem precisas ali na parede. Aliás, direção e produção lhe chamam tanta atenção quanto ao roteiro e ao elenco. E que elenco, que histórias!
A efemeridade sempre a assustou, mas esse ano a coisa se superou. O tempo é realmente uma caixa de surpresas. Porém não muito boas, como de práxis.
As lembranças a faziam fechar os olhos, franzir a testa, respirar fundo, engolir choro, lamentar, sorrir, lamentar outra vez, às vezes gargalhar. É, a parte cômica, devido algumas belíssimas e hilariantes atuações, também muito se marcou. Não foi de todo uma tragédia grega.
Dezembro. Fim de ano. Nostalgia em frente ao espelho. Olhar distante e lembranças com gosto de música e cheiro de vozes. Um olhar que passa de vago e frio à quente, vermelho e molhado:
- Obrigada, espelho.
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