Começa assim: sonhei que a gente dançava. Uma música agitada, muito sambarock. Havia água por todo lado e parecia que o mundo desabava, mas, no
sonho, eu sentia que precisava dançar essa com você.
A verdade é: cada vez que você me estendia a mão para dançar eu dizia
que tinha dois pés esquerdos. Quer dizer, eu tinha vergonha de não saber dançar
bem. Você tinha aquele gingado, aquele dom (mentira-rs-). Era lindo ver você dançar. E no
sonho eu podia ser a dançarina dos seus olhos.
Um dia, nas profundezas da galeria empoeirada da memória, você me
ensinou a dançar diferente.
Apenas nós dois. Você me fez subir nos seus pés e deu até um nome para
esse passo. Tinha algo a ver com estrelas e astros. Era coisa de criança, mas
você se movia e eu ria alto, sentindo o cheiro do seu pescoço, pois cangote de
quem se ama é aconchego, pura paixão.
E acaba que eu já não lembro mais qual música a gente dançava. E quais
eram seus movimentos mágicos. Eu já nem sei quando pude admirar seus pés de
bailarino. Hoje, na verdade, eu até que danço, pulo, engano. Mas valiam mesmo
os passos sobre os pés. O cheiro de cangote. Algo a ver com estrelas e astros.
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