" Há mais solidão num aeroporto
que num quarto de hotel barato,
antes o atrito que o contato."
(Zeca Baleiro)

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Sobre dançar.




Começa assim: sonhei que a gente dançava. Uma música agitada, muito sambarock. Havia água por todo lado e parecia que o mundo desabava, mas, no sonho, eu sentia que precisava dançar essa com você.

A verdade é: cada vez que você me estendia a mão para dançar eu dizia que tinha dois pés esquerdos. Quer dizer, eu tinha vergonha de não saber dançar bem. Você tinha aquele gingado, aquele dom (mentira-rs-). Era lindo ver você dançar. E no sonho eu podia ser a dançarina dos seus olhos.

Um dia, nas profundezas da galeria empoeirada da memória, você me ensinou a dançar diferente.

Apenas nós dois. Você me fez subir nos seus pés e deu até um nome para esse passo. Tinha algo a ver com estrelas e astros. Era coisa de criança, mas você se movia e eu ria alto, sentindo o cheiro do seu pescoço, pois cangote de quem se ama é aconchego, pura paixão.

E acaba que eu já não lembro mais qual música a gente dançava. E quais eram seus movimentos mágicos. Eu já nem sei quando pude admirar seus pés de bailarino. Hoje, na verdade, eu até que danço, pulo, engano. Mas valiam mesmo os passos sobre os pés. O cheiro de cangote. Algo a ver com estrelas e astros.

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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Filmes de Romance.





Há um tempo não vejo filmes de romance. Acho bonito, até interessante, mas descarto sempre que posso.
O que há sobre filmes românticos é que eles usam a exceção. Normalmente uma pessoa larga tudo para viver um amor incerto, pelo simples sentimento de achar que aquele é o amor da sua vida. O que filmes de romance não mostram, é que, na maioria das vezes, o cômodo é bem melhor.

Gente acomodada sabe que não está com a pessoa que vai fazer seu coração palpitar todos os dias. Entende quando encontra o certo. Mas tem medo de sair daquele conforto, aquela relação que inclui a família, todo mundo gosta, todo mundo aprova.
Em filmes o cara sempre vai atrás da aventura, do talvez. A moça abandona o altar, o homem termina noivados... Enfim. Nos filmes a exceção é a regra.

A fantasia é bonita, mas não é justo que nos iludam. Não é certo achar que mesmo o possível amor da sua vida tendo outra ele pode largar tudo para ficar com você. Pois a vida real inclui outras pessoas que também tem sentimentos e vivem suas histórias.

Seria lindo se todo mundo que descobrisse não estar com a pessoa certa tivesse coragem de deixar o outro ir, mesmo que fosse para ficar só. Pois uma das coisas mais tristes é "manter" um relacionamento pelo puro medo da solidão. 

Esse texto é um apoio aos acomodados do mundo. Que se libertem se aqui não for o certo. Que aprendam que amor é pleno, completa. Todos nós merecemos viver o amor das nossas vidas, a paixão arrebatadora, que nos fez suspirar por mil noites.

Vão viver seus filmes de romance. Mas todos sempre com finais felizes.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Sobre cartas.




"Mesmo assim, não lhe pareceram necessárias tantas explicações, embora pedisse a Fermina Daza o favor de não ler a carta.

_ Claro - disse ela - No fim das contas, as cartas são de quem as escreve. Não é certo?
Ele deu um passo firme.
_ Sem dúvida - disse. - Por isso são a primeira coisa que se devolve quando há um rompimento".

Ou não. Talvez o Florentino esteja errado. Esse trecho é de um livro que li recentemente, "O amor nos tempos do cólera", de Gabriel García Márquez. Ele tem um romance inteiro feito de cartas, mil cartas, recheadas de flores, perfumes e promessas. Um amor escrito, idealizado.
Cartas são presentes. Sempre me expressei melhor escrevendo. Esse é, afinal, meu elemento. Costumava fazer cartões de aniversário gigantes há uns anos, cartas enormes, ou pequenas, mas com um conteúdo considerável.
E acredito, muito mesmo, que podemos manter amores por cartas, se apaixonar, viver um a vida do correspondente. Hoje cartas são tão subestimadas que ganhar uma já é antiquado. Mas, para mim, nada substitui uma boa carta, escrita a mão, em páginas bonitas ou arrancadas de caderno, escritas no susto do momento, inflamadas de pura paixão, ou ponderadas e quase desenhadas.
Nosso melhor e nosso pior, cartas de amor e de raiva, letra pura, essência. Guardo cartas de anos atrás, porque é um prazer reler algumas e saber que em algum momento do passado alguém pegou uma caneta e me escreveu algo. Afinal, cartas são passado, são presentes.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Sobre equilíbrio.



Subitamente tudo que acreditei e defendi com unhas e dentes há alguns anos parece errado, não faz mais sentido entre as minhas crenças. E eu vejo que o que me parecia certo há tanto tempo, hoje parece apenas banal.
O que é a vida senão um combinado de fases? Uma hora se quer tudo, em outra hora não se quer nada além de estar consigo mesmo. É pegar na mão e amar tão intensamente que ao pensar no passado não enxerga os momentos que se pensou no próprio bem estar. Para depois olhar para o próprio umbigo e pensar onde diabos ele esteve o tempo todo.

A vida se compõe por um punhado de sentimentos e vontades que muitas vezes nos cegam. Como o amor que exclui nosso senso de autopreservação. Ou a raiva, que apaga o senso do ridículo (e vive-versa).
Não apenas isso, mas muitas pessoas pensam tanto em si que esquecem dos outros. E tudo que conseguem ver no passado é o que fez, como foi que se saiu naquilo. É como tirar uma foto com as pessoas mais importantes da sua vida e não pensar no sentimento feliz de reunião, mas ampliar a foto apenas em si para ver se não saiu feio.
Eu demorei um pouco para chegar a um ponto que considero equilibrado. Onde consigo pensar em todos que eu quero bem sem me excluir e não enxergar os danos que uma relação destrutiva pode trazer.
Não quero o equilíbrio para sempre, porque às vezes todo mundo precisa se desestabilizar um pouco para lidar com tudo que pode lhe acontecer. Por enquanto eu vivo um equilíbrio. Quem sabe quais ventos virão me empurrar e em quais direções eu vou.


Nota -clichê- : "Vale mesmo é viver."
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