" Há mais solidão num aeroporto
que num quarto de hotel barato,
antes o atrito que o contato."
(Zeca Baleiro)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Só mais cinco minutos...



Era quase hora, mas ainda se encontrava sentada na beira da cama desarrumada, com lençóis espalhados e fotografias jogadas. Vários dez por quinze’s de rostos, sorrisos, abraços amigos, amor e lembranças. O ponteiro grande avisava que a mochila velha e remendada já tinha de ser retirada de cima de toda aquela bagunça. O momento era bem propício a um olhar de quem procura o que nunca acha.

“Só mais cinco minutos”

A mesma cama encostada na parede mofada. O mesmo lençol. A mesma mochila. O mesmo quarto onde antes dançou, ao som de um mesmo Yan Tiersen, próximo à cortina de espirais da mesma janela aberta. Até o play list continua quase o mesmo de um ano atrás.

Cinco minutos e muito que lembrar. O vento que entreva pela janela enfatizava a sensação já bem conhecida dessa época do ano e bagunçava ainda mais os muitos fios soltos de um cabelo grosso escuro e antipático. Uma janela aberta e uma cortina de estampa balançante. Espirais ondulantes e dançantes às lembranças. Quinze dias e um começo de nostalgia: O filme começa, o sorriso aparece e a lágrima se forma.

Tudo parece nítido e recente. As Conversas e infinitas risadas em uma sala de aula de todos os dias. Obrigações e quem sabe, no fim do expediente, um completo do ver-o-peso [hehehe]. Lamentos, esperança e saudade.

As constantes brigas que todos os dias ameaçam o fim de uma fase. O mesmo disco riscado. Lamentos, comparações, desejos. Mentiras, esperança, saudade. Cerveja e papo furado. Risos, libido e ofensas entre as indesejadas fumaças. Rompimento de um plano abstrato e subjetivo.

A perda de quem a vida obriga ir embora. De quem luta por anos ora em uma cama ora apenas vivendo e sentindo. Força de vontade interrompida pelo que há de mais temido pela medicina e inexplicável pelo homem. Velas, tristeza, família, memória, dor e a velha e forte saudade.

É da vida, as pessoas se afastam, crescem, trabalham, procriam, trabalham, namoram, trabalham, se desentendem, se afastam e trabalham. Os amores vão embora, mas a amizade fica. Não importa muito se a distância se faz tão presente quanto à saudade de momentos de tempos atrás. O que importa é que amizade “é sempre amor mesmo que mude”.

Cinco minutos e o ponteiro grita. É tão rápido quanto trezentos e sessenta e cinco dias.

Enfim é hora de pegar a mochila abarrotada de coisas e cair na estrada. A lágrima corre consciente de que mais doze meses se aproximam. Quem sabe aquela felicidade de final de filme, onde todos choram felizes, onde o amor sempre vence e a vida é tão linda quanto à trilha sonora do casal que se beija, esteja presente nos próximos trezentos e dezessete dias.



segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Andando em domingo...




Aquele domingo de sol fraco era propício a caminhar, com mão no bolso e cigarro entre os dedos. Foi o que fez.

No quarto havia pilhas de apostilas e textos. Umas espalhadas e outras amontoadas pela cama, sofá e por aquela escrivaninha antiga e já defasada, presente no cômodo desde a sua infância.

Com todas aquelas coisas pra ler, com toda aquela coisa acadêmica e obrigações a cumprir, não achava ali nenhuma concentração. A cada junção de letra, na tentativa de formar uma única palavra, mergulhava nos seus pensamentos e se afogava na própria confusão.

Saiu e caminhou. Andava e procurava insistentemente nos rostos das pessoas um sorriso de satisfação, de prazer, ou qualquer outra sensação boa que, no momento ela não conseguia sentir.

Até achar dois sorrisos, um em cada rosto, e prender toda a concentração que achou por meia hora neles. Era um casal de velhinhos. Conversavam e riam e trocavam carinhos tímidos. Era aquele tipo de sorriso de satisfação, por ter vivido tudo o que viveu, por ter vivido ao lado de quem eles gostavam, amavam. Era um sorriso feito coisa de filme “água-com-açúcar”, no qual o casal enfrenta todas as dificuldades do mundo sentimental, familiar, financeiros e outros tantos problemas da vida e no fim de tudo sempre superam e vivem felizes para sempre.

Se isso existe hoje em dia? Ela não sabe responder. Só sabe que torce realmente pra que isso não seja apenas coisa de filme.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Dezembro e seus espelhos...

Parece coisa feita. Dezembro acaba sendo sempre igual. O mesmo frio nos olhos refletidos pelo espelho do banheiro esquecido pela vassoura, balde e sabão. Aliás, que saco é lavar banheiro:

- Tenho mais o que fazer. Preciso treinar meu olhar-de-fim-de-ano no espelho. Ensaiar sorriso e um “prospero ano novo”, no mínimo, sociáveis.

Dez minutos na frente do espelho sempre resulta em frustração. Junto às olheiras e remelas, a percepção do tempo na face cansada, e mesmo assim ainda jovem, é nítida. Começa o momento nostalgia. Por trás de sua fiel e quase leal cópia, presa no retângulo pregado na parede, começa o filme dos aproximados trezentos e trinta e cinco dias até então.

As músicas e cheiros vêm à tona com força surpreendente. Lembranças latentes. O perfume dos protagonistas é tão forte quanto a trilha sonora. Tudo sempre muito vasto. A imagem, misturas de cores, velocidade das cenas são muito bem precisas ali na parede. Aliás, direção e produção lhe chamam tanta atenção quanto ao roteiro e ao elenco. E que elenco, que histórias!

A efemeridade sempre a assustou, mas esse ano a coisa se superou. O tempo é realmente uma caixa de surpresas. Porém não muito boas, como de práxis.

As lembranças a faziam fechar os olhos, franzir a testa, respirar fundo, engolir choro, lamentar, sorrir, lamentar outra vez, às vezes gargalhar. É, a parte cômica, devido algumas belíssimas e hilariantes atuações, também muito se marcou. Não foi de todo uma tragédia grega.

Dezembro. Fim de ano. Nostalgia em frente ao espelho. Olhar distante e lembranças com gosto de música e cheiro de vozes. Um olhar que passa de vago e frio à quente, vermelho e molhado:

- Obrigada, espelho.



domingo, 30 de novembro de 2014

Fim de novembro...




Olhava fixamente através da janela semi coberta pela cortina. A cortina de espirais coloridos que ainda se encontrava ali, debatendo-se pelo vento, tão maleavelvemente. Cobriam a vista de Carolina esses espirais coloridos dançando fluorescentemente à sua frente ao som de Tiersen, enquanto seus pensamentos misturavam-se à chuva fina e fria do fim de novembro, ao piano triste de La dispute.

Seus pensamentos iam muito além de espirais dançantes, chuvas renitentes e longas fumaças tragadas. Seus pensamentos iam até lá, àquela época. A nostalgia era densa, bem mais que a fumaça. Tão presente que Carol chegou a pensar está revivendo aquela dor outra vez. Aquela dor que se fez muito necessária até. Pois sem ela jamais teria aprendido tudo. Conformado tudo. Sofrido tudo. Se rebelado contra tudo. Se libertado da mentira e aprendido.

Ela lembra. De olhos fechados, apertando as lágrimas calmas que escorriam sem serem enxutas da face pálida de frio, através dos óculos quebrados [naquela época]. O coração batia forte a cada vez que as notas da música iam fluindo, cada vez que o piano disparava. O filme vinha à mente.

O fim de novembro é quando, em sua memória, seus desejos ainda não realizados, suas saudades, suas dores, toda a merda de uma época vêm à tona tudo misturado. Sentimentos, sensações mistas às lágrimas que caíam ao som, à chuva, ao frio. À vontade de achar a tal felicidade que ainda não sabe se é verídica. Esperanças de fim de ano, de que as coisas mudem, de que tudo vá à merda, de que eles estejam sempre perto e que os outros vão embora. De que a música transpire sempre as sensações. De que suas vontades mais inconscientes, aquelas abraçadas com o ID, não a machuquem e nem a ninguém. Que seus medos não se concretizem e que ali mais à frente aperte a mão da invisível felicidade.

domingo, 12 de outubro de 2014

Entrelinhas...

Não te quero assim, não te quero meu, não te quero em vão. Quero tua cor, tua dor, teu calor. Tua pele, tua vividez, teus brilhos.
Mas não quero teu olhar, tua languidez, não quero teus abraços reconfortantes depois de cada vez.

Quero me afogar nos teus cheiros e emergir para não rever. Pois tens que fugir, tens que sumir, desaparecer de mim. Mas não te quero tão longe a ponto de não poder te ter nas horas que me acordo. Nas horas em que tá escuro e eu te queria nas mãos, te queria no abraço.

Pois ao mesmo tempo te quero na linha, na palavra, na ligação. Eu te quero na contradição, na distância, nos quilômetros. Te quero ao alcance do fio do telefone, mas longe o suficiente do alcance do meu coração calejado.

Não te quero dela, mas não te quero pra valer. Te quero no esquecimento, na raiva que se apaga com o beijo, na insegurança, na penumbra. Te quero perto, longe. Onde o coração não está, mas o passado predomina nas entrelinhas. Quero te esquecer, te tendo, e vice-versa. Quero te amar, amor, te perdendo.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Café preto requentado.




Às vezes, quando falam de ti, eu penso algo do tipo "É, ele é legal" e sempre rolam aquelas definições clássicas: "Gente fina", "gente boa", "parceiro".
Me dá aquele geladinho, aperto gostoso de quem descobre que quer ter alguém e estão falando dele. Aquela sensação de formigamento pois talvez um deles saiba o que eu quero.

E eu me pego pensando em tanta coisa, mas, principalmente: "Eu me apaixonaria muito facilmente por ele (de novo)". E é verdade. Quando nos esbarramos eu sinto que poderia simplesmente cair de amores. Que estar ao teu lado nos dias frios me faria feliz. Penso que seria natural encontrar consolo nos teus olhos e conforto nos teus abraços, mesmo os mais banais.

Pois eu penso que não és mais daquelas paixões arrebatadoras. És quase uma paixão gourmet. Precisa ser saboreada, (re)descoberta lentamente. Julgo ter que te (re)conhecer, (re)aprender algo novo a cada dia, sem pressa. (Re)Descobrir aquele costume que, para mim, parecerá maravilhoso. Ler tuas expressões. E depois, acordar um dia e me descobrir apaixonada por ti (de novo). Se você permitir, te fazer se (re)apaixonar e depois, quem sabe, (re)transformar isso em amor.

Pois quando te vejo e tudo é tão atemporal, eu penso em nos cozinhar em fogo baixo até o ponto de ebulição. Não no sentido de enrolar, mas tudo por que não tenho pressa para aproveitar cada segundo de convivência ao teu lado.

Depois disso, quero viver em constante vibração das moléculas. Esperando que a cada dia que trouxer descobertas, seja que nem um café preto requentando salvando aquela madrugada fria e sonolenta. Espero que possamos nos saborear, e que tu possas facilmente se (re)apaixonar por mim e vice-versa.

sábado, 21 de junho de 2014

Em uma dessas sextas.





É que as vozes das pessoas, o cheiro do cabelo e bordões usados apenas por elas, são coisas que conquistam a sua atenção, que o tomam pelo gosto, assim, logo de cara, sem nenhum esforço. E toda vez que conhece alguém, por mais que os olhos rodem por efeito do álcool na noite, sempre pára pra observar esses caracteres, aparentemente tão triviais, mas indispensáveis, principalmente em conjunto ali.

Quando tudo misturado em uma só pessoa o cara ouve até Lucy, com flores de celofane nas mãos, sussurrar dizendo que táxis feitos de papel de jornal estão à sua espera. Dá uma volta pela memória, acabando naquela nostalgia quase que cotidiana e bem enrolada em suas neuras pretéritas.

Foi ali: Aquele braço direito que segurava uma garrafa de cerveja. Aquele braço, com aquele relógio preto na pele branca. O sorriso dado de graça, junto às gargalhadas, aos amigos. Conversas em uma noite de sexta. Sorriso de dentes bonitos. Armação grossa dos óculos cobrindo aqueles olhos investigativos. O alargador preto na orelha branca, coberto pelo cabelo longo-ondulado de castanho bem claro, quase loiro. Era simplesmente quase perfeita sem nem conhecer esse cheiro castanho-doce do cabelo, nem voz, nem bordões que ela gostava de usar.

Ele andava meio cético, não acreditava em muita gente. Nem sentia muita gente já fazia algum tempo.

Andava nostálgico também, por um tempo que não volta. Um tempo misto de sujo e felicidade. Uma felicidade suja. Irreal, criada apenas em sua cabeça. Transpassada ao coração com uma esperança gritante, uma expectativa gigante de felicidade.

Andava cego. Cego de vontade de olhar ao redor, cego pelo medo de perceber a mesmice em que havia se afundado. E o pior: Por conta própria, enfiando um pé de cada vez lentamente de olhos conformados, semi-fechados. O fato é que aquela merda toda de interesses, refúgios, aos fins de semana, de angustias que se transvestiam, cada vez mais, em cotidianas, passou de adubo a concreto. Esqueceu de olhar ao redor.

Mas foi ali, naquela hora que soube da presença do diferente. Naquele momento tudo veio à tona, ao ver aquele corpo, aquela pele, cabelos longos, relógio preto, gestos atípicos, contrastes e reflexos de luzes. Olhar oculto que investiga por entre os óculos e seus dedos de unhas azuis que insistentemente ajeitam a lente rebelde e escorregadia pelo nariz de traços firmes. Copos cheios de refúgio alcoólico espremendo um sorriso de graça pelas graças de amigos.

Será que foi isso? Foi isso tudo e só? Que fez com que deixasse a cegueira de lado? Com que tornasse a nostalgia ainda mais forte? E deixado aquele ceticismo, que, aliás, não lhe cai tão bem assim, ir embora? Será? Ele até hoje sente o desejo de descobrir o que aconteceu naquela sexta daquele mês chato que, a seu ver, contraditoriamente, nada tem a oferecer.

Contraditoriamente. Fato. Naquele dia foi lhe oferecido a dúvida, a incerteza, a inquietante sensação da tristeza e felicidade anexadas ao mesmo sorriso. Excitações, obscenidades, inveja, ciúme, luxúria, de uma paixão [não correspondida].

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Só mais uma nota mental e desafortunada.





Em momentos assim, são várias as hipóteses que se formam nas mentes bagunçadas de pessoas intimamente bagunceiras. Entre trancos e barrancos as pessoas costumam buscar situações e possíveis atitudes que justificam as mudanças ocorrentes em suas vidas, nem sempre bem-vindas.

O fato é que sentimentos e palavras a todo o momento mudam de forma. Sim, é verdade que há circunstâncias que bastante facilitam a consistência da mudança. Mas, beibe, nesse caso não se trata mais de circunstâncias, porém de sentimento. Por mais abstrato e subjetivo que isso lhe pareça, o que se está sentindo agora não é impossível de não ser mais sentido amanhã. E ponto final.

O que foi e o que não foi dito por ela, não apenas pela mudança intrometida, mas por ela, a menina de carne e osso, mexeu com as estruturas que antes serviam de base pra esses momentos rotineiros que não passam de lembranças. Boas de existir, mas, que esperadamente e muito bem avisadamente, não existem mais.


Seria saudade? Ou um puro desapego e uma necessidade quase extremista de transbordar a vontade de viver desacompanhada do caos? Bem e simplesmente poderia ser o fim daquele sentimento que agora mudou de forma. O papo é que não há definição específica. As mentes mudam, pessoas engordam e as palavras trocam de nome, de tom e principalmente, de vontade. Simples assim? Não, mas apenas assim.


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